“Um dia um exame confirma que você está grávida e
a felicidade é imensa e o pânico também. Uau! Vou ser responsável pela
criação de um ser humano! A partir daí, nunca mais a vida como era
antes. Nunca mais a liberdade de sair pelo mundo sem dar explicações a
ninguém. Nunca mais pensar em si mesma em primeiro lugar. Só depois que
eles fizerem dezoito anos, e isso demora. E às vezes nem adianta.
O
primeiro passo é se acostumar a ser uma pessoa que já não pode se guiar
apenas pelos próprios desejos. Você continuará sendo uma mulher ativa,
autêntica, batalhadora, independente, estupenda, mas cem por cento
livre, esqueça.
Gostaríamos que eles não
falassem mal de nós nos consultórios dos psiquiatras, que eles não nos
culpassem por suas inseguranças, que não fôssemos a razão de seus
traumas, que esquecessem os momentos em que fomos severas demais e que
nos perdoassem na vezes em que fomos severas de menos. Há sempre um
"demais" e um " de menos" nos perseguindo. Poucas vezes acertamos na
intensidade dos nossos conselhos e críticas...
Erramos
em forçá-los a gostar de aipo, erramos em agasalhá-los tanto para as
excursões do colégio, erramos em deixar que passem a tarde no computador
em véspera de prova, erramos em não confiar quando eles dizem que sabem
a matéria, erramos em nos escabelar porque eles estão com olhos
vermelhos (pode ser só resfriado), erramos quando não os olhamos nos
olhos, erramos quando fazemos drama por nada, erramos um pouquinho todo
dia por amor e por cansaço.”
Trecho de uma crônica de Martha Medeiros
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