Ali




Movida, então, por essa necessidade interna, eu cravo minhas unhas naquele solo e recolho algumas folhas secas, pequenas pedras, areia fina e as guardo num lenço de papel.
Levanto-me, mas ainda me falta coragem. Começo a caminhar lentamente, tentando aguçar outros sentidos, e, de olhos fechados, revivo momentos de terror.
Momentos em que aquele portão se abria para tantos condenados. Momentos em que, fitando os olhos dos atiradores, sabia-se que a morte era inevitável.
Momentos de agonia, dentro da cova profunda, o ar faltando nos pulmões, o baque da terra sobre os ossos…e depois…Meu Deus! Haveria um depois? Quem sabe o depois seria fazer parte intrínseca dessa floresta, do perfume das sempre vivas, do alarido dos pássaros.
Um toque leve em meus ombros me arranca daquele devaneio. Olhos de um azul límpido me fitam e sorriem.
“Você é a nossa visitante do Brasil?” “Eu a estava observando lá do jardim.”
Vamos entrar. Seja bem vinda a este solo sagrado. Eu sou o padre Kiril.”
(Ludmila Saharovsky)
http://www.ovale.com.br/viver/uma-outra-russia-1.253928

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