Ouço


“Ouço, no momento em que estou escrevendo, o adágio da sonata K.330, em dó maior, de Mozart. 
Eu o considero uma das coisas mais belas jamais escritas. A beleza não me diz nada.
 Ela simplesmente me possui, toma conta de meu corpo.
 É uma felicidade. Tenho vontade de chorar.
 Meu corpo assume sua dimensão mágica, pois ele se co-move, é movido com os sons.
A música toca meu corpo e ele reverbera, vira música.
Eu e a sonata somos a mesma coisa. Sou a música.
 Esse é o sentido da experiência estética: a identidade entre a beleza e aquele que a sente. 
Tudo que me comove pela beleza é um espelho onde eu, Narciso, me contemplo. 
Sou tão bonito quanto o adágio da Sonata de Mozart.” 
(Rubem Alves em Variações sobre o prazer)

Nenhum comentário